Perspectivas

Boka — Eu sou um pouco antagônico nessa posição, porque tem meu lado realista que vê o planeta morrendo — que já morreu, né, tá agonizando. É um problema que não tem mais volta, a gente vê todo o consumismo, o plástico, o aquecimento global. Acho que isso não tem mais volta, porque o sistema financeiro que a gente vive, do capitalismo, exige que esteja todo mundo comprando, vendendo e produzindo o tempo inteiro. Fico pensando como a geração da minha filha de 12 anos, quando ela tiver a idade que tenho, como é que vai tá. Pode ser que esteja tudo muito fodido. Porém, por outro lado, já estamos todos velhos. Quando se olha pra situação que a gente tá, pessoal, se vê que praticamente todos nós vivemos a vida inteira até aqui fazendo só o que gostamos. Dificilmente tivemos de abaixar a cabeça e ir pra um trampo merda, aguentar patrão pagando um sapo pra receber um salário de merda que só dá pra subexistir. E a gente conheceu o mundo inteiro, gravamos inúmeros discos, tem um monte de gente que se identifica com o que a gente faz, admira e enaltece nosso trampo. Isso é uma puta sorte fodida. Então, por um lado eu vejo que tá tudo uma merda, e por outro, num plano pessoal, que a vida foi generosa. E a gente tem de aproveitar isso aí até onde a saúde permitir.

Source: Entrevista: Ratos de Porão num papo sobre Brasil, pandemia, indústria farmacêutica, genocídio e “Necropolítica”, o novo álbum – SCREAM & YELL

Author: Joe Monkey

Joe Monkey